Vou sobre o Oceano (o luar, de doce, enleva!) Por este mar de Glória, em plena paz. Terra da Pátria somem-se na treva, Águas de Portugal ficam, atrás.
Onde vou eu? Meu fado onde me leva? António, onde vais tu, doido rapaz? Não sei. Mas o Vapor, quando se eleva, Lembra o meu coração, na ânsia em que jaz.
Ó Lusitânia que te vais à vela! Adeus! que eu parto (rezarei por ela) Na minha Nau Catrineta, adeus!
Paquete, meu Paquete, anda ligeiro, Sobe depressa à gávea, Marinheiro, E grita, França! pelo amor de Deus!
Teu coração dentro do meu descansa, Teu coração, desde que lá entro: E tem tão bom dormir essa criança! Deitou-se, ali caiu, ali ficou.
Dorme, menino! dorme, dorme, dorme! O que te importa o que no mundo vai? Ao acordares desse sono enorme, Tu julgarás que se passou num ai.
Dorme, criança! dorme sossegada Teus sonhos brancos ainda por abrir: Depois a morte não te custa nada, Porque a ela habituaste-te a dormir...
Dorme, meu anjo! (a noite é tão comprida!) Que doces sonhos tu não hás-de ter! Depois, com o hábito de os ter na vida, Continuarás depois de falecer...
Dorme, meu filho! Cheio de sossego, Esquece-te de tudo e até de mim! Depois... de olhos fechados, és um cego, Tu nada vês, meu filho! e antes assim...
Dorme os teus sonhos, dorme, e não mos digas, Dorme, filhinho, dorme «ó-ó...» Dorme, minha alma canta-te cantigas, Que ela é velhinha como a tua avó!
Nenhuma ama tem um pequenino Tão bom, tão meigo; que feliz eu sou! E tem tão bom dormir esse menino... Deitou-se, ali caiu, ali ficou.
Vou sobre o oceano (o luar, de doce, enleva!) Por este mar de glória, em plena paz. Terras da Pátria somem-se na treva Águas de Portugal ficam, atrás.
Onde vou eu? Meu fado onde me leva? António, onde vais tu, doido rapaz? Não sei. Mas o vapor, quando se eleva, Lembra o meu coração, na ânsia em que jaz.
Ó Lusitânia que te vais à vela! Adeus! que eu parto (rezarei por ela) Na minha Nau Catarineta, adeus!
Paquete, meu paquete, anda ligeiro, Sobe depressa à gávea, marinheiro, E grita, França! pelo amor de Deus!
Oceano Atlântico, 1890
Autor: AntónionNobre |
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