
Quando ela passa à minha porta, Magra, lívida, quase morta, E vai até à beira-mar, Lábios brancos, olhos pisados: Meu coração dobra a finados, Meu coração põe-se a chorar.
Perpassa leve como a folha, E, suspirando, às vezes olha Para as gaivotas, para o Ar: E, assim, as suas pupilas negras Parecem duas toutinegras, Tentando as asas para voar!
Veste um hábito cor de leite, Saiinha lisa, sem enfeite, Boina maruja, toda luar: Por isso, mal na praia alveja, As mais suspiram com inveja: «Noiva feliz, que vais casar...»
Triste, acompanha-a um "Terra Nova" Que, dentro em pouco, à fria cova A irá de vez acompanhar... O chão desnuda com cautela, Que "Boy" conhece o estado dela: Qunado ela tosse, põe-se a uivar!
E, assim, sozinha com a aia, Ao Sol, se assenta sobre a praia, Entre os bebés, que é o seu lugar. E o Oceano, trémulo avozinho, Cofiando as barbas cor de linho, Vai ter com ela a conversar.
Falam de sonhos, de anjos, e ele Fala damor, fala daquele Que tanto e tanto a faz penar... E o coração parte-se todo, Quando a sorrir, com tão bom modo, O Mar lhe diz: «Há-de sarar...»
Sarar? Misérrima esperança! Padres! ungi essa criança, Podeis sua alma encomendar: Corpinho danjo, casto e inerme, Vai ser amada pelo verme, Os bichos vão-na desfrutar.
Sarar? Da cor dos alvos linhos, Parecem fusos seus dedinhos, Seu corpo é roca de fiar... E, ao ouvir-lhe a tosse seca e fina, Eu julgo ouvir numa oficina Tábuas do seu caixão pregar!
Sarar? Magrita como o junco, O seu nariz (que é grego e adunco) Começa aos poucos de afilar, Seus olhos lançam ígneas chamas: Ó pobre mãe, que tanto a amas, Cautela! O Outono está a chegar...
Autor: António Nobre (1867-1900) Editado por: nicoladavid |
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