
“Quem atrevido quer
lutar cem Píndaro”
(De Horácio)
Quem atrevido quer
lutar cem Píndaro, Fia-se em asas que
pegou com cera A arte dedálea – e
há de ir dar seu nome Ao vítreo pego. Como esse rio que
engrossou coa cheia, E vem do monte, as
ribas alagando, Tal ferve e corre
da profunda boca Píndaro imenso. Sempre dos louros
apolíneos digno: Ou ditirambos cante
em neves termos, E livre entoe
numerosos versos De regra soltos: Ou cante os nomes,
ou real sangue deles Que justa morte
deram a Centauros, E hórridas chamas
apagar puderam Da preta Quimera: Ou vá coroando com
os dons das Musas Os que, vencendo na
corrida ou luta, Ricos das palmas de
Élida que cingem Aos céus se elevam; Ou sobre a esposa
abandonada chore A quem roubaram o
marido jovem, E áureos costumes e
a virtude exalte, Pragueje o Inferno. É forte a aura que,
em subindo às nuvens O dirceu cisne, lhe
propele os voos, Eu, meu Antônio,
como a abelha humilde Que afadigada Por bosque e
prados, às ribeiras úmidas Colhe do Tíbure os
tomilhos gratos. Assim a custo meus
lidados verses
Componho tímido...
Autor: Almeida Garrett
(1799-1854)
Editado por: nicoladavid | |
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