Adeus! e para sempre embora, Que seja para nunca mais: Sei teu rancor - mas contra ti Não me rebelarei jamais.
Visses nu meu peito, onde a fronte Tu descansavas mansamente E te tomava um calmo sono Que perderás completamente:
Que cada fundo pensamento No coração pudesses ver! Que estava mal deixá-lo assim Por fim virias a saber.
Louve-te o mundo por teu ato, Sorria ele ante a ação feia: Esse louvor deve ofender-te, Pois funda-se na dor alheia.
Desfigurassem-me defeitos: Mão não havia menos dura Que a de quem antes me abraçava Que me ferisse assim sem cura?
Não te iludas contudo: o amor Pode afundar-se devagar; Porém não pode corações Um golpe súbito apartar.
O teu retém a sua vida, E o meu, também, bata sangrando; E a eterna ideia que me aflige É que nos vermos não tem quando.
Digo palavras de tristeza Maior que os mortos lastimar; Hão de as manhãs, pois viveremos, De um leito viúvo despertar.
E ao achares consolo, quando A nossa filha balbuciar, Ensiná-la-ás a dizer "Pai", Se o meu desvelo vai faltar?
Quando as mãozinhas te apertarem E ela teu lábio -houver beijado, Pensa em mim, que te bendirei Teu amor ter-me-ia abençoado.
Se parecerem os seus traços Com os de quem podes não mais ver, Teu coração pulsará suave, E fiel a mim há de tremer.
Talvez conheças minhas faltas, Minha loucura ninguém sabe; Minha esperança, aonde tu vás, Murcha, mas vai, que ela em ti cabe.
Abalou-se o que sinto; o orgulho, Que o mundo não pôde curvar, Curvou-se a ti: se a abandonaste, Minha alma vejo-a a me deixar.
Tudo acabou - é vão falar -, Mais vão ainda o que eu disser; Mas forçam rumo os pensamentos Que não podemos empecer.
Adeus! assim de ti afastado, Cada laço estreito a perder, O coração só e murcho e seco, Mais que isto mal posso morrer.
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