Rei de muitos reis, se um dia, E ao bem comum não teria
Os respeitos que ter devo. Que em outras partes da esfera, Que Deus té 'gora escondera, Dando quase ao mundo volta. Gente doutro algum rei solta; ………………………………… Um rei ao reino convém. O reino onde há rei segundo.
Não ao sabor das ovelhas A cabeça os membros manda,
Seu rei seguem as abelhas. A tempo o bom rei perdoa, Da sua grei montesinha.
Às' aves, tamanho bando.: D'outra liga e doutra lei, Que o sol claro atura, olhando, ………………………………….
Sobre obrigações tamanhas, Velem-se com tudo os reis Dos rostos falsos, das manhas Com que lhe querem das leis Fazer teias das aranhas! Que se não pode fazer, Por arte, por força ou graça, Salvo ao que lhes vai' na praça.
E, por muito que os reis olhem, Vão por fora mil inchaços Que ante vós, senhor, se encolhem, Com que dão e com que tolhem.
Quem graça ante el-rei alcança, ¾ Mal grande da má privança! ¾ De que toda a terra beve.
Quem joga onde engano vae, O 'onde tanto dano sae!
Homem dum só parecer, Mas de corte homem não é.
Tudo seu remédio tem, E que é assim bem o sabeis.' No fruto os conhecereis.
………………………………… Ah! senhor, que vos direi Que acede mais vento às velas? Que inda não é feita a lei Já lhe são feitas cautelas. ………………………………….
Autor : Sá de Miranda (1451-1558) |
Não esqueça ligar o som. |