No meu relógio, que supunha amigo em vão contar as horas boas tento; porém ele infiel, meu inimigo, as horas más me dá com fero intento.
Contá-las para quê se tantas são que o conto lhe perdi há tempo infindo desde que este meu triste coração era menino e moço, alegre e lindo.
Nesse passado de ouro, encantador, meu relógio era então me bom amigo, horas boas me dava: horas de amor, horas de paz e sonho, que bem-digo.
Tudo passou, porém, nada ficou senão doce lembrança do passado, que, triste, a recordar na vida vou num sonho pungitivo, magoado.
E agora raramente conto alguma hora boa que dês, relógio amigo, e esta é raio de sol por entre a bruma, momento bom em que sonhar consigo.
Autor: João Maria Ferreira Editado por: nicoladavid |
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