Queixo apoiado à mão em postura severa, lembra-se o Pensador que é da carne uma presa; carne fatal, desnuda ante o fado que o espera, carne que odeia a morte e tremeu de beleza;
que estremeceu de amor na primavera ardente e hoje, imersa no outono, a tristeza conhece. A ideia de morrer dessa fronte consciente passa por todo o bronze, à hora em que a noite desce.
De angústia os músculos se fendem, sofredores; os sulcos de seu corpo enchem-se de terrores; entrega-se, folha outoniça, ao Senhor forte
que o plasma. E não se crispa uma árvore torcida de sol nos plainos, nem leão de anca ferida, como
esse homem que está meditando na morte. Autor: Gabriela Mistral (1889-1957) Editado por: nicoladavid |