Arvore irmã que bem cravada por ganchos escuros ao solo a clara fronte levantaste numa sede intensa de céu.
Faz-me piedoso para a escória de cujos limos me mantenho sem que se adormeça a memória do país azul de onde venho.
Tu que anuncia ao viandante a graça de tua presença com ampla sobra refrescante e com o nimbo de tua essência;
faze com que a minha presença revele, nos prados da vida, dúlcida e cálida influência por sobre as almas exercida.
Árvore criadora dez vezes: a que tem fruto cor-de-rosa, a de madeira construtora, a de zéfiro perfumada, a de folhagem protetora,
a de bálsamos suavizantes e a de resinas milagrosas repleta de pesados ramos e de gargantas melodiosas;
torna-me doador opulento, fazei-me como tu fecundo: O coração e o pensamento me sejam vastos como o mundo.
E todas as atividades não cheguem nunca a fatigar-me; as magnas prodigalidades surjam em mim sem esgotar-me.
Árvore, em que é tão sossegada a pulsação do existir, e vês meu alento a agitada febre do mundo consumir;
faze-me sereno, sereno, dessa viril serenidade que deu aos mármores helenos o seu sopro de divindade.
Tu que não és outra coisa que doce entranha de mulher, pois cada rama guarda airosa em cada leve ninho um ser,
dá-me ramagem vasta e densa, tanto quanto hão de precisar os que no bosque humano imenso não tenham lenha para o lar.
Árvore que onde se levante teu corpo cheio de vigor assumes invariavelmente o mesmo gesto protetor;
faze que ao longo dos estágios da vida, do prazer, da dor, minha alma assuma um invariado e
universal gesto de amor. Autor: Gabriela Mistral (1889-1957) Editado por: nicoladavid |