Esta água medrosa e triste, como criança que padece, antes de tocar a terra, desfalece.
Quietos a árvore e o vento, e no silêncio estupendo, este fino pranto amargo, vertendo!
Todo o céu é um coração aberto em agro tormento. Não chove: é um sangrar longo e lento.
Dentro das casas, os homens não sentem esta amargura, este envio de água triste da altura;
este longo e fatigante descer de água vencida, por sobre a terra que jaz transida.
Em baixando a água inerte, calada como eu suponho que sejam os vultos leves de um sonho.
Chove... e como chacal lento a noite espreita na serra. Que irá surgir na sombra da Terra?
Dormireis, quando lá foram sofrendo, esta água inerte e letal, irmã da Morte se verte?
Autor: Gabriela Mistral (1889-1957) Editado por: nicoladavid |