O silêncio é um aroma
E a distância uma flor.
Não peço nem desejo,
Nada ouço nem vejo,
Mas a tristeza assoma
E é cada vez maior.
É pálida a ilusão;
O mistério é sem cor.
Não cismo nem medito,
Não penso nem reflicto,
Mas bate o coração
e aumenta a minha dor.
A vida é uma andorinha;
Morte, negro condor.
Não choro nem suspiro,
Não clamo nem deliro,
Mas o tempo caminha
E é cada vez menor.
Orgulho, imensa planta;
Erva pequena, o amor.
Não murmuro nem falo,
No meu sonho me calo,
Mas a poesia canta
E diz tudo o que for.
A impaciência é onda
E o êxito um sol-pôr.
Não procuro nem espero,
Não pretendo nem quero;
Onde a glória se esconda
Será tudo melhor.
Autor: João
Cabral do Nascimento (1897-1978)
Editado por: nicoladavid
|