Aceso no almo ardor, que a mente inflama,
Vivo de Amor, de Amor suspiro e canto;
Na face agora o riso, agora o pranto,
Da árvore tua, oh Febo, eu cinjo a rama.
Prezo a doce moral; na voz da fama
Meu nome pouco a pouco aos Céus levanto;
Mas turba vil, que abato, anseio e espanto,
Urde em meu dano abominável trama.
Réu me delata de hórrida maldade,
Projecta aniquilar-me o bando rude,
Envolto na leteia escuridade.
Que falsa ideia, oh zoilos, vos ilude?
Furtais-me a paz? Furtais-me a liberdade?
Fica-me a glória, fica-me a virtude.
Autor: Manuel Maria
Barbosa du Bocage (1765-1805)
Editado por: nicoladavid