“A um pequenito,
vendedor de jornais”
Bairro
elegante, – e que miséria!
Roto e faminto, à luz
sidéria,
O pequenito adormeceu…
Morto de frio e de cansaço,
As mãos no seio, erguido o
braço
Sobre os jornais, que não
vendeu.
A noite é fria; a geada
cresta;
Em cada lar, sinais de festa!
E o pobrezinho não tem lar…
Todas as portas já cerradas!
Ó almas puras, bem formadas,
Vede as estrelas a chorar!
Morto de frio e de cansaço,
As mãos no seio, erguido o
braço
Sobre os jornais, que não
vendeu,
Em plena rua, que miséria!
Roto e faminto, à luz
sidéria,
O pequenito adormeceu…
Em torno dele – ó dor
sagrada!
Ao ver um círculo sem geada
Na sua morna exalação,
Pensei se o frio descaroável
Do pequenino miserável
Teria mágoa e compaixão…
Sonha talvez, pobre inocente!
Ao frio, à neve, ao luar
mordente,
Com o presépio de Belém…
Do céu azul, às horas mortas,
Nossa Senhora abriu-lhe as
portas
E aos orfãozinhos sem
ninguém…
E todo o céu se lhe apresenta
Numa grande Árvore que
ostenta
Coisas dum vívido esplendor,
Onde Jesus, o Deus Menino,
Ao som dum cântico divino,
Colhe as estrelas do Senhor…
E o pequenito extasiado,
Naquele sonho iluminado
De tantas coisas imortais,
– No céu azul, pobre criança!
Pensa talvez, cheio de
esp’rança,
Vender melhor os seus
jornais…
Autor: António Feijó
Editado por: nicoladavid