vives na rua e todos os dias te lavas nela cospes como um cão cuspiria há muito tempo que não ris falas com as latas as brigadas de socorro e um ou outro passante não sei onde defecas não sei onde sonhas sei, às minhas custas e a expensas biográficas que rejeitaste a água aberta por onde passaram os meus lábios nojo de mim? nojo de mim! nojo do teu corpo indefeso perante a minha clara mundanidade insisti, menti, que a água era virgem menti, no meio de restos de massa de cobertores queimados, de pacotes e plásticos e tecidos que foram roupa que a água era virgem e a minha intenção impoluta não te soube explicar que vinha de uma festa agradável onde copos e bocas e olhares se tocam ritualmente não te pude dizer que o nojo nos pertence todo a nós que nos lavamos compulsivamente da porcaria que fazemos recusaste e tinhas sede nojo de mim!
Autora: Ana Saraiva Editado por: nicoladavid |
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