Em Marraquesh há um anão que ensandece as mulheres.
Elas vão ao banho (dizem aos maridos) fazer limpeza de pele mas algo a mais ali sucede basta ver como depois além do corpo a alma lhes vai leve.
O segredo deste anão está guardado na palma de sua mão pois com seus dedos sabe sublimar as mulheres.
Elas vêm e ele com silencioso gesto pede que se dispam -se despem.se ele dissesse: voem voariam, se dissesse: dancem, dançariam se dissesse: amem-me -o seu mínimo corpo amariam.
Mas pede apenas que larguem suas vestes e se deitem à espera que suas pequenas mãos se agigantem e abram portas janelas desvãos abismos na vertigem da viagem dentro da própria pele.
Quando se despem despedem-se dos maridos e já não mais carecem de amantes é como se Penélope convertida em Ulisses nas mãos do anão a Odisséia sentisse.
Ninguém sabe exatamente o que seus dedos operam. Começa pelos pés e algo vem subindo devagar ao leve toque que não toca que roça mas não fere que solicita e impera e vai em círculos como se o bem e o mal se transcendessem numa espiral de delícias.
Os maridos e parceiros ficam no hall do hotel bebendo uisque nas quadras jogando tênis e nunca saberão o que ocorreu ao leve toque daquelas pequenas potentes suaves mãos.
Finda a massagem (nome conveniente à transfigurante viagem) as mulheres reaparecem translúcidas caminhando a um centímetro do chão irrompem inalcançáveis como se tivessem tido uma visão.
Aos maridos não adianta qualquer explicação.
Há na pele da alma delas algo de que jamais se esquecem: o irrepetível toque dos dedos e das mãos do anão de Marraquesh.
Autor: Affonso Romano de Sant’Anna
Editado por: nicoladavid
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