Pescadores da Mondego, Que girais par essa praia, Se vós enganais o peixe, Também Lise vos engana.
Vós ambos sois pescadores; Mas com diferença tanta, Vos ao peixe armais com redes, Ela cós olhos vos arma.
Vós rompeis o mar undoso, Para assegurar a caça; Ela aqui no porto espera, Para lograr a filada.
Vós dissimulais o enredo, Fingindo no anzol a traça; Ela vos expõe patentes As redes, com que vos mata.
Vós perdeis a noite e dia, Em contínua vigilância; Ela em um só breve instante Consegue a presa mais alta.
Guardai-vos pois, Pescadores, Dos olhos dessa tirana; Que para troféus de Lise Despojos de Alcemo. bastam.
Enquanto as ondas ligeiras Desta corrente tão clara Inundarem mansamente Estes álamos que banham,
Eu espero que a memória O conserve nestas águas, Por padrão dos desenganos, Por triunfo de uma ingrata.
E na frondosa ribeira Deste rio, triste a alma Girará sempre, avisando Quem lhe soube ser tão falsa. Autor: Cláudio Manuel da Costa (1729-1789) |