Se eu pudesse ao luar, Lucília bela, Queimar-te a fronte de insensatos beijos, Dobrar-te ao colo, minha flor singela, Ao fogo insano de eternais desejos;
Ai! se eu pudesse de minh’alma aos elos Prender tu’alma enfebrecida e cálida, Erguer na vida os festivais castelos Que tantas noites planejaste, pálida;
Ai! se eu pudesse nos teus olhos turvos Beber a vida da volúpia ao véu, Bem como os juncos sobre as ondas curvos A chuva bebem que derrama o céu,
Talvez que as mágoas que meu peito ralam Em cinzas frias se perdessem logo, Como as violas que ao verão trescalam Somem-se aos raios de celeste fogo!
Oh! vem Lucília! é tão formosa a aurora Quando uma fada lhe batiza o alvor, E a madressilva, que ao frescor vapora Os ares peja de lascivo amor...
Sou moço ainda; de meu seio aos ermos Posso-te louco arrebatar comigo... De um mundo novo na solidão sem termos Deitar-te à sombra de amoroso abrigo!
Tenho um dilúvio de ilusões na fronte, Um mundo inteiro de esperanças n’alma, Ergue-te acima de azulado monte, Terás dos gênios do infinito a palma!...
Autor: Fagundes Varela (1841-1875) | Não esqueça ligar o som.
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