
A única
alegria neste mundo é a de começar. É belo viver, porque viver é começar,
sempre, a cada instante. Quando esta sensação desaparece - prisão, doença,
hábito, estupidez - deseja-se morrer.
É por isso que quando uma situação dolorosa se reproduz de modo idêntico -
parece idêntica - nada apaga o horror que tal coisa nos provoca.
O princípio acima enunciado não é, portanto, próprio de um viver. Porque há
mais hábito na experiência a todo o custo (cfr, o antipático «viajar a todo
o custo») do que na charneira normal aceite com o sentido do dever e vivida
com entusiasmo e inteligência. Estou convencido de que há mais hábito nas
aventuras de do que num bom casamento.
Porque o próprio da aventura é conservar uma reserva mental de defesa; é por
isso que não existem boas aventuras. Só é boa aventura aquela em que nos
abandonamos: o matrimónio, em suma, talvez até aqueles que são feitos no céu.
Quem não
sente o perene recomeçar que vivifica a existência normal de um casal é, no
fundo, um parvo que, por mais que diga, não sente, sequer, um verdadeiro
recomeçar em cada aventura.
A lição é sempre a mesma: atirarmo-nos para a frente e saber suportar o
castigo. É melhor sofrer por ter ousado agir a sério do que to shrink (ou to
shirk? (recuar) ). Como no caso dos filhos: é de resto a Natureza que o quer, e
recuar é cobardia. No fim - já se tem visto -, paga-se mais caro.
Autor: Cesare Pavese
(1908-1950)
Editado por: nicoladavid
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