I.
Porque o amor não entende
que tudo quer passar,
nunca, nunca consente,
a nada o seu lugar.
Planta presa, de alpendre,
sacudindo no ar
braços impenitentes,
tenazes, em lugar
de aceitar que não prende
nada, o amor quer dar
apaixonadamente
laços à luz solar
e é noite de repente.
II.
Se ainda te iluminar
com um olhar novamente,
sei que não vais estar
tão perto; a alma entende,
o corpo quer gritar!
Porque o olhar apreende
mais do que alcança dar,
à distância, na mente,
de que vale um olhar
com a noite pela frente?
Essa noite que tende
a unir e separar
inapelavelmente…
Autor: A. Bruno Tolentino (1940-2007)
Editado por: nicoladavid