Não saberei, Senhor, se era possível evitar o degredo ensimesmado, se ao coração sedento de invisível e cedo emparedado em seu quadrado de febre, de impureza e de impossível, fora talvez possível, por um lado, escapar à masmorra, ou preferível, por outro, haver crescido encarcerado.
a arte de, nos pulsos tendo algemas, escalar pedra a pedra o precipício.
que renitente a lenha e quão propício teu cadafalso às almas mais extremas.
Não permitas, Senhor, que a minha carne se confunda outra vez e eu me atrapalhe e caia como cartas de baralho o castelo
em que entrei para salvar-me. Teresa, castelã, valha o que valha o meu fervor, o meu fragor de armas, sustentai-me, rogai que eu não desarme, que não se apague o fogo meu, de palha, talvez, mas seja palha de fogueira; fogo de auto-da-fé, se necessário, mas fogo irrevogável, se primeiro hei de arder que render-me ao ilusório.
tanto mais duro quanto o assédio é sério.
Autor: A. Bruno Tolentino (1940-2010) |